O HOMEM QUE NÃO QUERIA SER FELIZ – CONTOS CRÔNICOS #5

O homem que não queria ser feliz

– Perdido, acho que está tudo perdido.

– Calma, rapaz, não é pra tanto, todos temos dias ruins.

– Mas não são dias – Um rapaz magro batia a cabeça na janela. –, são semanas, meses, na verdade, hoje completa um ano, ironicamente hoje.

– Ela pode estar blefando. – Seu amigo se aproximou tentando ajudá-lo.

– Gravidez é algo muito sério e ela sempre quis ser mãe, só não achei que daria essa honra para aquele babaca. – Algumas lágrimas se confundiam com a chuva. – Eu adoraria saber o que ele tem de tão encantador assim.

– Ele é o rapaz lá que é viciado?

– Ele mesmo, parece que as mulheres têm uma queda por homens com problemas.

– Não seja tão ranzinza, você sabe que não é isso.

– Não sei? – Havia uma incredulidade mortal na sua voz. – Como eu não sei? Todas elas têm tanta vontade de ser mãe, que a missão de resgatar um bebê do meio do mato é maior do que encontrar o tal amor da vida. – Aquele era o discurso de um derrotado. – Acho que a solução pra mim é arranjar algum problema.

Seu amigo riu discretamente, aquela frase realmente era engraçada.

– Você precisa de algo que te deixe mais feliz, essa aura deprê não vai ajudar.

– Na verdade – Ele colocou a mão no rosto coçando a rala barba. –, cansei de tentar ser feliz, talvez eu tente o inverso.

– A tristeza?

– Não… a ausência…

Assim se sucedeu, aquela decepção poderia tê-lo matado, mas não, o esvaziou. O pobre rapaz percebeu que a busca pela felicidade faz com que a vida tenha que ter objetivos traçados, o que gera frustração ao não alcançá-los. Sua lógica poderia ser louca, mas tinha um tom de obviedade.

Ele trabalhava como designer, aquilo o dava uma enorme satisfação… desistiu, o salário era pouco, o que compensava era a satisfação do serviço, mas não estava mais atrás de felicidade. Acabou trabalhando num Shopping em tempo integral. Ganhava bastante, mas não gastava o dinheiro. Mulheres, bebibas e games eram algo que ele precisava evitar ou nunca conseguiria esquecer a ideia de felicidade na cabeça.

Era um leitor assíduo, mas percebeu que os livros só têm duas funções; a cura de uma dor e possibilidade de algum prazer… então ele parou de ler. A mesma coisa aconteceu com os filmes, seriados, músicas e, principalmente, as peças de teatro.

Certa vez, num dia comum, já completamente habituado com a ideia de não sentir mais nenhum tipo de felicidade em absolutamente nada, ele contemplava um cenário extremamente urbano enquanto esperava o pão fresquinho sair da chapa.

– James? – Uma voz doce e suave veio em sua direção. Uma moça baixa de cabelos dourados segurava um lindo bebê e um saco de supermercado cheio de suprimentos. Naquele momento o seu coração disparou, uma mistura de sentimentos o acertou e ele teve uma certeza; havia perdido toda a felicidade, mas não conseguira se desfazer do amor.

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