
– Cerveja quente, Baltazar? Num aprende nunca!
– Cala a boca e vá trocar essa camisa.
– O quê? Qual o problema da minha camisa?
– Nenhum se ela estivesse vestindo a sua irmã.
– Ahhhhhh, cala a boca e senta aí que agora é a hora.
– Para de ficar olhando pra lá assim, vai dar pinta.
– Agora você é meu patrão?
– Bebe um pouco e relaxa
– Eu não preciso rela… agora, é agora, vamos!
– Calma, calma, espera aí! é a Bruna, neta da dona Oliveira.
– A dona Oliveira que serve a marmita pra corporação?
– Isso, é ela mesmo.
– Não pode ser, ela fala que a neta dela é universitária e não uma traficantezinha de merda.
– É, mas é ela mesmo, eu sigo nas redes sociais.
– O quê? Pra que você segue ela?
– Sei lá, ela põe umas fotos de biquíni, você tem que ver.
– Eu num quero maconheiro na minha rede social não, Baltazar.
– Ela num é maconheira não, a dona Oliveira disse que foi ela que a ajudou a começar o negócio da quentinha.
– Com dinheiro de maconha, Baltazar, deixa de ser inocente, você já viu maconheiro não fazer mal a alguém?
– Na verdade, já, eu cheguei a fazer o primeiro semestre de filosofia, tô no grupo de whatsapp deles até hoje.
– Você é uma vergonha para a corporação. Vou esperar o rapaz ali pagar pra pegar ela em flagrante.
– Rapaz, a dona Oliveira é da comunidade também, você vai querer que ela passe essa vergonha? Pensa direi… vixe, só um real?
– Eu vi ele puxando uma nota verdinha, daquelas de um real mesmo.
– Maconha é barato assim?
– Por isso que o chefe disse que ela é a entrada para outras drogas, começa com a maconha, depois vem a cocaína, o craque, só piora.
– É… realmente.
– Realmente o que, Baltazar? E outra, tá querendo criar mosquito da dengue nesse copo? Então bebe essa cerveja aí enquanto eu decido o que a gente vai fazer.
– Já disse, deixa pra lá, a menina é estudiosa, batalhadora, não tá matando e nem roubando.
– Tá traficando! Você sabe quantas pessoas morrem por causa de maconha?
– Na verdade, eu não sei.
– O chefe disse que é um monte de gente, Baltazar, um monte de gente. Eu vou dar esse flagrante é agora!
– Calma, calma, espera a próxima venda, essa aí já foi, o rapaz até já guardou a maconha.
– A gente não tem o dia todo, o chefe quer esse caso solucionado hoje.
– Você sabe que a gente vai ficar sem nosso almoço, né?
– A gente compra em outro lugar.
– E aquela pimenta deliciosa, o outro lugar vai fazer também?
– Cala a boca, Baltazar e levanta.
– Nós temos que pagar a cerveja.
– É quanto mesmo?
– Quatro reais.
– Só tenho cinco, traga o meu troco.
– Troco? É verdade, sobra um real de troco.
– Um real, né?
– É… um real.
– Hum… um real.