
– Meu vizinho faleceu ontem.
– Vixe, esse coronavírus está realmente mortal.
– Não, não, foi acidente de trânsito
– Ufa!!!
– Ufa? Por quê?
– Se fosse corona eu ia ter que lamentar profundamente e fazer textão no facebook.
Então…tá proibido morrer, mas só se for de Corona Vírus. Longe de mim querer ser o cara que olha para o todo sempre procurando uma discordância. Na verdade, esse ponto de vista me foi apresentado por uma amiga que proferiu uma ótima frase: “Já viu como agora todo mundo se importa com a morte?” Não que haja um problema em todos se importarem agora, mas por que não se importavam antes?
Acidentes de trânsito, violência doméstica, insegurança pública e corona vírus podem pegar qualquer pessoa. Lembra quando o antigo prefeito de São Paulo diminuiu a velocidade das vias na tentativa de diminuir o número de acidentes, como foi a reação da massa? Por que quem tentou evitar mortes de trânsito foi visto como um palhaço e quem tenta evitar mortes pelo contágio é visto como um herói? Concordei com o ponto de vista dela quando percebi que várias mortes evitáveis são ignoradas cotidianamente. Logo, essa luta contra o corona vírus é altruísta ou egoísta?
Vivemos em um país em que nem se discute o aborto e homossexuais não podem doar sangue. Esses dois fatores são determinantes para salvar vidas. Uma pesquisa em 2016 levantou que uma mulher morre a cada dois dias em clínicas clandestinas de aborto e o banco de sangue em 2020 registrou uma queda de 50%. Repito…nenhum dos dois assuntos sequer entram em pauta. Somos um país que valoriza a vida? Que acende vela para os mortos por corona vírus e depois? Quando tudo isso passar voltaremos a ser insensíveis relacionados a morte?
De fato, acredito que passamos por um momento de transição e o olhar para determinados assuntos tende a mudar. Esse distanciamento social pode nos ensinar em como cada vida tem um valor ímpar e como mortes evitáveis devem ser evitadas. Desculpa se eu soei insensível, muito pelo contrário, só estou esperançoso de que todos sigamos sensíveis uns pelas vidas dos outros. Continuem lavando as mãos, usando as máscaras e se importando com o próximo.
Quando novamente te encontrar escritor, espero poder lhe dar um abraço! s2
Sim, é uma luta egoísta. Enquanto ainda tivermos que recorrer ao “pense, e se fossem familiares suas/seus?”, será.
Sim, é uma luta egoísta. Enquanto precisarmos recorrer ao “pense, e se fossem suas/seus familiares?” , será.