
No longevo ano de 2013, Tom Zé lançou o EP Tribunal do Feicibuque, inspirado num capítulo inusitado em sua trajetória. O artista que sempre andou pelo underground teve o convite de narrar uma propaganda da Coca-Cola, ganhando uns bons trocados pelo trabalho. A internet não conseguiu aceitar o fato de um músico, UM MÚSICO! querer ganhar dinheiro e julgou negativamente a atitude de Tom Zé (a atitude de aceitar ser remunerado por um trabalho), carimbando nele a cancha de mercenário. Tom Zé deu uma resposta linda em forma de arte e a internet percebeu que não poderia julgar pessoas baseadas em suas próprias leis #SQN (Só Que Não).
A máquina do tempo nos leva a 2020, onde duas figuras muito conhecida da interweb cairam no antigo tribunal da internet. Dessa vez temos PC Siqueira e Luisa Sonsa no banco dos réus. As situações são bem distintas, mas sofrem da mesma raiz; a noção distorcida de webjustiça. PC Siqueira teve uma suposta conversa, exposta na internet, onde ele assume uma prática pedófila. Sem sequer ouvirem uma palavra dele, a internet já o crucificou, exigiu posicionamento de pessoas que não estavam ligadas ao caso e o condenou por crime de silêncio. Em poucas horas, (sem ter aberto a boca) ele era a pior pessoa do mundo. Luisa Sonsa cometeu um crime gravíssimo, muito maior do que o silêncio do PC, ela ousou se separar de Whindersson Nunes (ou errou em não ser a esposa ideal), o que rendeu um hate na internet, culminando em uma montanha de dislike em seu novo clipe, pois ela aparece em cenas sensuais com outro homem. “Como assim? Ela, solteira, vai atuar, ATUAR, com outro homem em cenas, CENAS, picantes? dislike nela”.
O caso do PC Siqueira é responsabilidade da polícia e da Luisa Sonsa é responsabilidade dela e do ex-dela (dependendo do caso). Mas a internet se acha no direito de julgar qualquer pessoa que tenha um comportamento que possa desagradá-la. Sendo assim, o que o PC deveria ter feito era se posicionar segundos depois do falso vazamento, mesmo que isso tenha impactado-o a ponto de paralisá-lo, mas a internet não entende isso, ele deveria tacar um foda-se para o psicológico e falar qualquer coisa. Já a Luisa Sonsa não poderia ter se separado, não poderia gravar um clipe sensual com outro homem…não poderia viver, deveria estar num sofá, em posição fetal, tomando sorvete direto do pote, assistindo comédias românticas e chorando por conta do término.
E se o PC se matar? e se a Luisa Sonsa desistir da carreira musical? Essa cultura do cancelamento não consegue medir as consequências dos seus atos e corre como hienas atrás da próxima vítima para poder trucidar e dar risada. Tom Zé não foi o primeiro, PC e Luisa não serão os últimos, a internet é implacável, é a melhor invenção dos últimos tempos e a pior invenção dos últimos tempos. Dizem que quando você tem um dedo apontado pra alguém, quatro estão apontados pra você, o problema é que acharam que a solução era apontar todos os dedos.