“Eu não assisto BBB” essa frase é dita por 90% das pessoas que se acham superiores por não assistirem BBB, por 9% de pessoas que não tem tempo ou não gostam de assistir o BBB ou 1% por quem não tem TV em casa, antena de TV ou a GloboPlay não pega direito, eu sou esse 1%. Porém, as redes sociais me deixam acompanhar o realitty show que, de verdade, nem é o do meu interesse, mas chamou minha atenção quando soube que Lumena, mulher negra baiana com quem eu já tive o prazer de trocar uma ideia, estaria no reallity, também quando vi uma quantidade significativa de negros e, mais tarde, quando percebi que o BBB 2021 havia virado case de estudos afrorraciais.

Debater o BBB 2021 é fundamental, pois ele virou um simulacro fiel do que é nossa sociedade. Se antes a internet era uma terra sem lei, hoje o virtual e o real estão mais conectados ainda e ninguém parece se importar em ser ruim. Sabe aquela máxima do “sou uma pessoa de personalidade forte” que sempre sai da boca de alguém chato e/ou sem noção? Pois bem, o BBB está mostrando que não há mais vergonha em agir antes de pensar. Seja na tirania da Karol ConKá ao impor um determinado espaço ao participante Lucas, seja nas falas autoritárias de Lumena, seja no discurso completamente falso de Fiuk, seja nas barbaridades misóginas do Nego Di, seja na omissão de todos os outros diante fatos tão escabrosos. E eles estão sendo filmados… imagina como deve ser no sigilo?

Em qual deles você se reconhece? Talvez seja no Lucas, jovem que errou muito ao tentar criar uma revolução negra, como se fosse necessário algum combate aos brancos. Se unir, se defender e atacar são coisas diferentes, mas não é surpreendente que algum negro as confunda, afinal, a história nos fez reativos, a passividade por muito tempo foi sinônimo de correntes e os negros que mudaram suas eras (e as nossas) foram os que colocaram o dedo em riste. Contudo, hoje é o século XXI, tudo funciona de forma diferente e esse foi o erro do garoto. Pra mim, o erro é o combustível do acerto e não tem nada mais nobre que alguém te estendendo a mão quando você se propõe a mudar. Nessa, poucas mãos foram estendidas, tiveram alguns dedos, algumas unhas, mas mãos inteiras…

Desculpa minha análise rasa, mas realmente não assisto, só que fiquei assustado ao saber que hoje, domingo, dia 07 de fevereiro de 2021, o participante Lucas sucumbiu a pressão e deixou a casa. Depois de sofrer abusos psicológicos terríveis, ele se viu amparado nos braços e beijos do participante Gilberto e as insinuações de que havia tido uma relação homossexual só para sensibilizar o público foram a gota d’água para Lucas. “Eu quero sair. Não te usei, cara. Preciso ver como estão meus pais, mano. Não usei ninguém….” Lucas já havia sido amparado por Tiago Leifert que, visivelmente, está bem decepcionado com o rumo do programa, porém esse é o jogo e, infelizmente, o capitalismo pede para ele ser jogado. A intolerância venceu.

Bullying, misoginia, machismo, esquerdomacho, xenofobia, autoritarismo, assédio, omissão, racismo, homofobia, bifobia… em pouco mais de dez dias de BBB já podemos observar uma faceta cruel da nossa sociedade sendo representada pelos “brothers”. “Eu não assisto BBB” e faz bem… se for pra ver a quantidade de maldade produzida por essa edição, é melhor colocar no Datena ou no Se Liga Bocão. E aí, vai continuar dando uma espiadinha?