
Se você é um ser humano com um polegar opositor, com a capacidade de distinguir odores e/ou um tempo mínimo para passear por redes sociais, telejornais ou rodas de conversa, então sabe que a Karol Conká é o Thanos do universo BBB. E se você aí quer reforçar sua pseudointelectualidade afirmando que o Big Brother é pão e circo, tudo bem, mas saiba que quando a nossa realidade está sombria, nós optamos por passear em outra, seja em um livro, em filmes, em festas, em games ou em realitty shows. Qual é a sua? Dito isso, vamos para o que realmente importa. 23 de Fevereiro de 2021, o dia do tombamento.
Falar sobre a cultura do cancelamento é chover no molhado. Eu mesmo, não tenho uma opinião formada sobre o assunto, pois entendo que há nele pontos positivos e pontos negativos. Porém, a volúpia e o excesso podem criar injustiças incorrigíveis, detonar a carreira de alguém por uma interpretação incorreta ou perceber que há um movimento mais agressivo com determinado perfil de artista coloca os próprios canceladores numa postura bem parecida com o cancelado. Por isso é necessário refletir diante dos rumos que o capítulo Jaque Patomba irá tomar.
Já sabemos que a Mamacita deixará de receber quase cinco milhões em patrocínio, eventos e possibilidades comerciais. Não que seja surpreendente o fato de um artista ser uma pessoa ruim, mas ver a corrosão de uma carreira ao vivo é algo novo para todos nós. Cineastas, atletas, comunicadores, youtubers já mostraram seu lado mais escroto e continuaram com seus seguidores e suas fontes de renda intactas. Porém, é diferente quando você é vigiado 24 horas por dia e uma simples edição se propõe a justificar o ódio percebido como comportamento social. Essa raiva nascida nos brasileiros tem como alvo a Karol do BBB ou a Karol Conká? Ou não há diferença entre as duas?
Perseguir pela internet, exigir que festivais tirem ela do line-up, gastar energia pra que ela seja eliminada da vida real, será um prato cheio para percebermos que os canceladores estão tão ruins quanto os cancelados. O BBB é um jogo, não me parece que há muito tempo para a redenção lá dentro, mas a vida é longa o suficiente para que os erros sejam percebidos e corrigidos. Karol precisa entender que ser “debochada” pode até soar legal na frente do espelho, mas quando você precisa viver em sociedade é mais legal ser empático, solidário ou compreensivo. A vida real é a vida real e por mais que o BBB seja baseada em George Orwell, o ideal é que o passado não precise ser um casco de tartaruga para ninguém que queira redenção.
Terminar esse texto sem a analogia com o refrão “Já que é pra tombar, tombei!” seria impossível, uma vez que o tombamento de Karol Conká será um episódio marcante da TV aberta brasileira. Porém, tombamento pode ser do verbo cair ou do verbo ser protegido pelo serviço público. Qual é o tombamento que a Karol merece? Ou melhor… nós temos o direito de escolher o que ela merece? Sendo bem sincero, eu prefiro nem tombar, me deixa só espiando que já tá de bom tamanho.