Black Nerd 008 – Watchmen previu o futuro e o presente

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Em 2019, fomos apresentados a uma das melhores adaptações de quadrinhos para o áudio-visual. Na verdade, não foi bem uma adaptação, foi a coragem do diretor Damon Lindelof de continuar uma obra prima literária e fazê-lo a partir de uma ótica que ninguém havia enxergado. A série Watchmen segue a história dos super-heróis encapuzados usando como cenário um Estados Unidos onde as questões raciais foram equilibradas e negros conseguiram a mesma relevância social que os brancos. O musical Oklahoma, por exemplo, pode ser visto em uma das cenas iniciais da série, sendo atuado somente por atores e atrizes negras. Essa utopia tem seu ar de realidade quando apresenta uma série de fanáticos que é contra essa reparação social e é exatamente aí onde Watchmen nos conta sobre o nosso próprio futuro.

A premissa da série mostra como um grupo de supremacistas brancos se apoiaram nas falas do diário do Rorschach para encontrar forças  e retomar a América que havia sido “roubada pelos negros”. A Sétima Kavalaria é fictícia, mas se parece bastante com os Neo Nazistas, com a Ku Klux Klan, com os 300 de Bolsonaro, com os invasores do capitólio e com outra porção de grupos extremistas que viviam nas sombras, mas, hoje, não parecem se envergonhar de pregar uma sociedade pautada no ódio e na exclusão. Outra semelhança, é a capacidade de distorção do passado. Rorschach era preconceituoso e radical, mas o seu diário não estava falando sobre um E.U.A. sendo invadido por negros, mas sim pela violência, tal violência que não podia ser mais combatida pelos vigilantes mascarados e isso tirava o sono de Rorschach. A interpretação dada pela Sétima Kavalaria distorce e tira do real contexto os relatos no diário, assim como é feito com frases “negros também tinham escravos”, “eles só foram violentos por que os outros também foram”, “morreu só quem fazia coisa errada” e outras tantas.

Respectivamente, Sétima Kavalaria, 300 de Bolsonaro e Ku Klux Klan.

A noite branca, evento em que a sétima Kavalaria invadiu a casa de policiais negros para exterminá-los, sempre aparece como principal pesadelo e ponto de reflexão quando a polícia se questiona sobre as consequências de seus atos. Nossa noite negra é todo dia, e às vezes nem é noite, é durante o dia mesmo, mas a revolta se escondeu na rotina e hoje aceitamos que “não podemos generalizar”, “são algumas laranjas podres”, “abriu-se uma investigação interna para apurar o caso”. Os ideais radicais afastam o diálogo e criam opositores, eu sei, mas é inegável o fato de que vários períodos da história foram mudados por atitudes radicais.

“…podemos empreender esta maravilhosa travessia sobre a família com o pano de fundo do racismo e da vigilância, um espelho perfeito para o que está acontecendo neste momento…” Resposta de Regina King, a Sister Night da série Watchmen. Leia a entrevista completa aqui

Watchmen é essencial, tanto o quadrinho como a série – o filme é bom também, dê uma chance ao pobre Snyder – e são fundamentais para que nosso ponto de vista sobre o presente ganhe profundidade. Nessa selva de máscara, não vai demorar para alguém se sentir anônimo de corpo presente e começar a fazer justiça com as próprias mãos. Mas o que realmente é justiça? Segundo a série, se for Justiça Encapuzada até pode, afinal, é uma Justiça negra. #WakandaForever

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