Black Nerd 010 – O dia em que a Sony achou o racismo uma boa ideia.

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O lançamento do playstation 5 paralisou a internet por algumas horas. Nunca foi tão real o meme do Homer num bar envolto ao mesmo assunto sendo falado por todos, menos por ele. O visual do console foi muito elogiado, é o mix de Museu de Arte Contemporânea do Rio (MAC) e uma pista bem cuidada de fórmula 1. No entanto, suas cores, preto e branco, me fazem lembrar uma campanha antiga da Sony que já caiu no esquecimento, mas não deveria. Você sabia que a Sony já achou uma boa ideia de marketing veicular uma propaganda com alto teor racista? Então vamos lá.

Campanha da Sony para o lançamento do PSP Branco.

O ano era 2005, quando uma versão branca do PSP (PlayStation Portátil) estava chegando no mercado. A primeira versão do PSP – preto – havia sido um sucesso e surfar naquela onda era uma estratégia ótima para lançar o novo modelo. Assim nasceu a seguinte campanha publicitária. “O PSP Branco está chegando.” Problema? Nenhum, se não viesse acompanhado da seguinte imagem; uma figura caucasiana exercendo  força bruta sobre uma pessoa negra. Convenhamos, acho que é uma péssima estratégia de marketing.

Tudo poderia acabar menos mal se viesse acompanhado de um pedido de desculpas, pois vários blogs e sites indicaram o teor racista da campanha. É difícil imaginar como isso passou por tanta gente sem que ninguém apontasse que aquele conceito não era uma boa ideia. Posso deduzir que ou não havia negros nesse processo ou que eles não exerciam papel relevante em escalas hierárquicas. Como tudo que está ruim, ainda pode piorar, uma porta-voz da Sony falou que a campanha não tinha nenhum teor racista, pois só mostrava que o PSP estava chegando. Infelizmente, o nome dela não foi encontrado, fazendo com que não saibamos a sua cor, mas acho que dá pra deduzir.

Sabe quando você está assistindo um desenho com personagens super opostos e se pergunta como alguém pode ter aquele tipo de pensamento? Então, pessoas só pensam de uma forma se tiverem passado uma vida inteira imersas ao mesmo contexto, mesmas pessoas, mesmos olhares… por isso que muita gente pensa de forma tão unilateral. Porém, o problema é achar que além disso nada existe. Afirmar que uma imagem em que uma mulher branca está intimidando uma mulher negra não tem um teor racista é tão unilateral quanto achar que a solução para um planeta sustentável é dizimar metade dele.

Esse texto serve para que você não jogue o PlayStation 5? Lógico que não. Essa cultura do cancelamento é tão ruim quanto os motivos que levaram ela a existir. Mas, histórias como essas devem ser lembradas para que não sejam repetidas. A própria Sony adiou o evento de lançamento da 5° geração do seu console para que não competisse em espaço de mídia com os protestos contra a execução do George Floyd e a favor de uma igualdade racial. Eles alegaram que outras vozes precisavam ser ouvidas. Muitos vão dizer que foi uma estratégia de marketing, mas eu prefiro ver como um avanço, principalmente se compararmos com a campanha citada anteriormente. Que a evolução não seja somente em gráficos, games e jogabilidade, evoluir socialmente é importante para passarmos da fase em que o racismo é o chefão. #WakandaForever

Por que não é mimimi

O mundo dos games é um mundo majoritariamente branco. É difícil ver entre os grandes representantes do e-sports pessoas negras. Isso se dá muito pelos aparatos que são necessários para construir um atleta de e-sports; um computador ou console de última geração, uma família que te dê subsídio para o seu lazer virar profissão, tudo isso fica mais complicado quando as necessidades básicas levam parte do salário familiar ou quando não se tem uma cultura de imaginar que há futuro em ficar horas e mais horas na frente de um jogo. Se isso já não fosse excludente o suficiente, a história ainda nos mostra que, antes desse boom do e-sports, a Sony já tinha pisado feio na bola no quesito afro-racial. Sendo de propósito ou não, trazer essa história para a luz da atualidade é criar mecanismos para que algo assim não se repita. Então… não é mimimi.

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