
É impressionante como o terror voltou a ser popular e rentável. No final de 90 e início de 2000, os slashers ganharam e perderam força, indo do old inovador para a piada de filmes de comédia em um estalar de dedos. O que parecia o grande retorno do terror, soou como uma frustração coletiva, muito por conta da falta de roteiros consistentes e de uma narrativa que conseguisse se descolar de clichês ou abordassem temas que envolvessem um público que não estivesse ali só pelo gore.
Isso mudou com a Blumhouse, a casa do terror de baixo orçamento e de ideias mirabolantes. É de lá que vieram Atividade Paranormal, Corra!, Uma Noite de Crime, Fragmentado e cia… A produtora trouxe pro mainstream um gênero que parecia ter morrido no fundo das locadoras. Seu diferencial foi usar do terror para apontar problema sociais aparentes, como o racismo, em Corra! e Nós, a desigualdade social em Um Noite de Crime… Essa estratégia foi utilizada por outras produtoras, dando espaço para autores pensarem em metáforas e analogias que pudessem fazer do terror um gênero que refletisse mais a sociedade atual.

Coloquemos na mesa três narrativas; Midsommar (2019), O Homem Invisível (2020) e Maligno (2021). As três tratam, de forma direta ou indireta, sobre relacionamentos abusivos pela ótica feminina do problema. Em Midsommar, temos uma protagonista traumatizada pela morte dos pais e da irmã e um namorado que não está nem um pouco preocupado com a fragilidade dela diante de tal tragédia. Em Maligno, um marido alcoólatra agride sua mulher por ela não conseguir segurar o tão esperado bebê da família, ela, até o momento da agressão, já tinha sofrido dois abortos. O Homem Invisível, dos três filmes, é o que trata o tema de forma mais específica. Nele, um grande cientista finge a própria morte, veste um traje invisível para ficar vigiando sua ex-namorada.

Em todos os casos, o relacionamento torna a vida das personagens um inferno, levando elas a ter contato com o terror que amarra toda a trama. Uma relação saudável seria o suficiente para que consequências trágicas não viessem a tona. Em Maligno, por exemplo, o marido é responsável por tirar o que de pior existe da sua mulher, fazendo um paralelo interessante com o estado de nervos que algumas mulheres ficam após anos de abusos recorrentes. Midsommar vai ainda mais longe, quando a personagem encontra mulheres que passam a sentir as dores dela – cena em que todas gritam coletivamente -, ela finalmente se vê em casa e percebe que a solução do seu problema passa pela queima do seu passado. Entendeu? Queima…
O Homem Invisível consegue atualizar uma narrativa secular trazendo uma versão que mais atual não poderia ser. Se você já presenciou mulheres assediadas sabem como elas vivem com seus namorados em suas sombras, como se eles fossem onipresentes. Tem algo mais aterrorizante que isso? Um ser humano que não consegue entender que uma outra pessoa tem sua própria vida? Um ser humano que tem como lema de vida para os relacionamentos “ou comigo ou sem ninguém!”? Um ser humano que não sabe a diferença entre paixão e obsessão? Um ser humano que mata em nome do “amor”? … Bem-vindo, infelizmente, ao terror.