
Quando Thomas Hobbes concluiu que o “homem é o lobo do homem”, ele não poderia estar mais correto. A frase – terror dos corretores e corretoras de redação do ENEM – fala do homem em um paralelo com a humanidade, mas seu duplo sentido me traz um questionamento cruel: Se o homem é o lobo do homem, que animal ele é pra mulher?
O machismo mora em diversos lugares, ao mesmo tempo que é um nômade inveterado. Porém, vou falar de uma morada que é sorrateira e silenciosa; a frustração. Há um machismo específico para quando as coisas não saem como programado e o seu eu influenciado por uma sociedade corrosiva precisa dizer o tempo todo a você que a culpa não foi sua. Esse machismo te faz transformar aspectos cruéis em risadas que, se não freadas, irão parar naqueles típicos grupos de whatsapp onde só existem homens afirmando para si mesmo que vomitar preconceitos no mundo virtual está liberado. Onde essa regra está escrita mesmo? Nos discursos que não saem da voz ou na ignorância do “eu sou assim mesmo e foda-se”.
Se o homem é o lobo do homem, talvez alguns sejam um carrapato para uma mulher.
Felizmente, como homem, nunca me senti concluso, por isso falo tranquilamente sobre meus machismos tentando que ele não seja do outro. Apesar de não entrar em detalhes, fica aqui a explicação de que a pessoa em questão não foi exposta, fiquei com a frustração pra mim e a despejei contando o caso em questão para três pessoas que me corrigiram no ato. Diani, Davi e Luciene são joias raras, amigas que não tem problema em dizer “você nunca esteve tão errado em toda a sua vida”. Obrigado, eu só posso melhorar com alguém me ajudando a melhorar.
Numa sociedade em que homens se sentem à vontade para expor o seu pior lado, tentar remar na contramão dói, afasta, entristece. Pior é quando você tem ciência de que está dando o seu melhor e um simples episódio faz você sentar no metrô pensando em: “Por que isso não parecia tão óbvio?” A obviedade precisa ser verbalizada, houve um tempo em que vender pessoas era aceitável, até alguém pensar que aquilo poderia ser muito errado. Mas sempre tem um outro pra rebater “ou não poderia”. A cabeça coça, a mente coça, o bom senso nem sempre é o senso comum. Refletir é um ato nobre.
Se o homem é o lobo do homem, talvez alguns sejam um percevejo para mulher.
Possa ser que esse texto esteja extremamente dramático e você aí do outro lado esteja achando ele hipócrita. É difícil não poder errar, sabe? Parece que ser um homem com consciência social te faz olhar para o que pra muitos é normal com um peso cavalar. No entanto, comparando com o quanto as mulheres sofrem com o machismo, isso não é nada. No final das contas, dentro de mim estava morando uma justa frustração e a falta de percepção sobre sinceridade, sincericídio e outros conceitos que eu ainda preciso refletir. Acho que já passou da hora de ler “Mulheres que correm com os lobos” da Clarissa Pinkola Estés, afinal, o meu lobo uivou hoje, mas amanhã ele ficará manso e quieto como sempre deveria estar.
Se o homem é o lobo do homem, talvez o final da história seja com dentes afiados que mordem os próprios lábios.
A humanidade como um todo está longe de ser perfeita, mas no que diz respeito ao sexo masculino ainda bem que muitos homens hoje são feministas e não calam perante injustiças nem adquirem a influência negativa desse machismo que não apenas violenta e mata mulheres, mas também destrói a psiquê de muitos homens.