
Os canais de cultura pop da internet compartilham a mesma pauta no mês de dezembro e janeiro. Ter visto um vídeo é como ter visto todos, já que, respectivamente, os temas passeiam sobre melhores e piores do ano, e sobre as principais estreias do novo ano. A ressaca de blue sky, a preguiça de arrumar a casa e a vontade de morar na cama no dia 01 de janeiro me fizeram assistir todos esses vídeos e uma pulga se mudou para bem atrás da minha orelha: Cadê os blockbusters com negros e negras protagonizando em 2022? Resolvi me juntar à turma e fazer a minha lista de maiores estreias do ano com um recorte racial. Valem duas ressalvas: Entendo blockbuster como aquele filme que dos três itens – elenco de peso, direção de peso, grande investimento – apresenta o mínimo de dois. Alguns filmes de streaming foram anunciados, mas suas datas não são confirmadas, eu os ignorei. Apesar de que a gigante Netflix não tem nenhuma grande obra com negros divulgadas até a publicação desse texto. Então, vamos na jornada de uma simples dedução?
Janeiro
É… vou ter que pular esse mês. Não há nenhuma grande estreia mundial no primeiro mês do ano, porém o cenário nacional traz o aguardado e premiado Medida Provisória, a estreia de Lázaro Ramos como diretor. O filme é baseado em uma peça de enorme sucesso Namíbia, não e conta a história de um Brasil futurista onde uma medida provisória aprovada pelo governo impacta diretamente a vida de um casal negro. Vamos prestigiar o cinema negro brasileiro, galera.
Fevereiro
Michael Bay vai explodir sua cabeça com Ambulância: Um Dia de Crime. O filme tem como protagonista Jake Gyllenhaal – pra mim, o eterno Donnie Darko – e o ator com nome mais legal de todos os tempos; Yahya Abdul-Mateen II. Você deve conhecê-lo como Arraia Negra ou como o novo Morpheus. A trama não traz grandes novidades, mas promete uma sufocante tensão ao colocar dois ladrões de banco tentando fugir com uma ambulância que tem uma pessoa à beira da morte dentro. É Michael Bay, eu sei, mas vamos dar mais uma chance.
Março
Então né… se eu achar que o protagonista do filme The Batman é o novo Gordon, vale colocá-lo nessa lista?
Abril
Sonic 2 – Filme trará Idris Elba dublando Knuckles, rival do ouriço azul. Isso é o máximo de melanina que nós teremos como blockbuster esse mês.
Maio
O filme francês Paris, 13th District aborda um quadrisal – existe esse termo? – formado por três mulheres brancas e um homem negro. É um blockbuster? Não, mas eu realmente queria saber se a palavra quadrisal pode ser utilizada.
Junho
Sou só eu ou você também está ouvindo o som do grilo?

Julho
Aêêêê!!!! Teremos de volta Jordan Peele com seu terror racial Nope. Daniel Kaluuya aparece novamente como protagonista e somente isso é o que sabemos sobre o filme até agora.
Agosto
Hum… será que hoje chove?
Setembro
É… eu acho que vai dar uma chuvida leve.
Outubro
O incrível Homem-Aranha no Aranhaverso trará a sua esperada continuação. Seu título indica que esse novo filme é somente a parte um de uma história que já nasceu épica. Além do Miles Morales, o longa promete a presença do Homem-Aranha 2099 e da versão japonesa do teioso com direito a robô gigante.

Novembro
É muito otimismo achar que Pantera Negra 2 sairá em Novembro. Letitia Wright conseguiu estragar uma continuidade que parecia natural após o infeliz falecimento do Chad Bosewick. Após a lesão de Letitia, um surto de covid invadiu o set de filmagem e o filme já está sofrendo sua segunda paralisação. É, Chris Rock sempre esteve certo mesmo, temos que voar para conseguir feitos que muitos conseguem engatinhando.
Dezembro
É pavê ou pacumê?

Metade dos meses que completam o ano não terão protagonistas negros em seus principais lançamentos. A outra metade contará somente com um filme que tenha esse recorte racial. Só no Brasil teremos a estreia de 123 filmes em 2022, onde nós estamos? Eu não sei se realmente preciso escrever algum complemento após a lista, adoraria confiar 100% no poder de dedução lógica de quem estiver lendo e na certeza de que isso também está te indignando. Ser antirracista não é só colocar frases em redes sociais, é perceber essas nuances e se perguntar: “Por que tão pouco?” Falar sobre a importância da representatividade é chover no molhado, mas exemplos como esse me mostram que o óbvio ainda precisa ser verbalizado, afinal, de todos os vídeos que assisti, nenhum apresentador ou apresentadora pareceu se incomodar com a falta de melanina na lista apresentada.
Quanto menos vemos as minorias representadas, menos naturalizamos o processo e mais precisamos de espaços e textos como esse. Eu adoraria falar aqui sobre a minha expectativa diante do novo Batman ou sobre como o cinema tem andando em círculos, mas essa não é a minha prioridade e nem meu incomodo no momento, pois os fatos me dizem que mais uma vez eu não irei me ver na proporção que gostaria. Imaginar que 2022 é um ano em que os projetos sairão das gavetas e ainda assim teremos tão pouca representatividade é um grande problema. Jordan Peele mais uma vez será o principal negro do ano no cinema, assim como em 2021 com o roteiro e produção de Candyman, longa que pela primeira vez da história de Hollywood levou uma diretora negra – Nia DaCosta – ao topo de maior bilheteria da semana. Quantas “primeira vez” ainda existem que precisam ser alcançados por negros e negras? Infelizmente, não poderemos dizer que 2022 será a primeira vez que ficaremos satisfeitos com nossos rostos na telonas. Ainda há muita mudança por vir. #WakandaForever.