
O ano é 2022 e quando se pensa no Oscar vem uma leve e maldosa vontade de fazer o seguinte comentário “só se fala em outra coisa no mundo”. A maior premiação do cinema só continua maior por que o Globo de Ouro não se cansa de premiar filmes como Corra! na categoria de comédia ou musical. A irrelevância do Oscar atingiu patamares que deveriam ser preocupantes, mas, de coração, ninguém se importa. Só a Anitta ou a Juliette podem salvar o careca dourado.
“Os canais de cinema e cultura pop se importam…” Disse alguém usando um monóculo e fechando o livro “Arte do Cinema” sem ainda ter saído do prefácio. Canais de cinema se preocuparem com o Oscar é tipo os programas vespertinos da Rede TV se preocupando com A Fazenda. O Oscar é uma premiação que tentou sair da sua bolha muito tarde, suas ações para se tornar mais plural vieram tarde demais e apesar dos indicados de 2022 mostrarem um suspiro em prol da diversidade, a desconfiança e a falta de apelo popular tornam tudo ainda muito irrelevante.

O Oscar até já ditou tendências, suas premiações faziam determinado estilo de atuação, de filmagem, de roteiro ser replicado por bons anos. Em 2022, a maior novidade é Flee, documentário em animação que pode mostrar ao mundo uma outra forma de retratar fatos, principalmente os menos palatáveis. O último grande fenômeno foi Parasita, trazendo uma explosão de obras da Coreia para o ocidente. Felizmente, Spolight – vencedor do Oscar de melhor filme – não convenceu ninguém a nada, principalmente a jornalistas que escrevem em bloquinhos.
A ideia de ser uma eterna briga com o popular levou-o exatamente a onde já se esperava; a impopularidade. Essa ideia de achar que o Oscar premia o cinema de arte é no mínimo ridícula. Cinema de arte? Qual cinema não é de arte? Nessa entoada daqui a pouco o careca dourado será substituído por uma replica brilhante do Martim Scorsese.
A ascensão dos streamings é outro fator que tirou a pouca atenção que o Oscar tinha. Muita gente prefere ver quatro episódios de série do que um filme de duas horas. Empresas como a Netflix remodelaram a forma como o público lida com o audiovisual. A própria Netflix busca incansavelmente o seu Oscar, mas a impressão que tenho é que após ganhá-lo ela terá a mesma reação de um atendente da C&A que consegue convencer alguém a fazer o cartão da loja: “E agora?”
Outro fator que corrobora para essa impopularidade é a insistência em ignorar o gênero super-herói. Imagine só se tivéssemos Homem-Aranha Sem Volta Pra Casa em roteiro adaptado ou William Defoe – com muito mérito – concorrendo em Ator Coadjuvante, tenho certeza que você lendo esse texto estaria muito mais interessado em assistir e/ou acompanhar a premiação. Até a comunidade negra desencanou e as indicações de Will Smith e Denzel Washigton levantaram algumas palmas e só.
Portanto, se você acha minha opinião irrelevante, então pode chamá-la de “Oscar 2022”. Quem apresentará? Quem vai bater recordes? Quem sairá do ineditismo? Eu não sei e acho muito difícil que você aí saiba ou tenha no mínimo um chute consciente. O Oscar precisa se reinventar, já tá fora de moda esse careca esguio, talvez umas dancinhas de tiktok e um pouco de autocrítica possam ajudar. Talvez. #WakandaForever.