
Bater em algo é errado? Sim.
Pronto, dito isso podemos entender mais a fundo o caso que alavancou o que tinha tudo pra ser o Oscar mais modorrento de todos os tempos. O primeiro passo – e espero que eu não seja trucidado por conta disso – é perceber que o racismo tem pouca relação ao fato. Lógico, sempre quando dois homens pretos protagonizam uma cena, podemos entender que ali há uma relação racial, afinal de contas, nossa raça é protagonista da nossa vida, quer queiramos, quer não. Nesse aspecto, posso ressaltar que o Chris tinha uma plateia lotada de brancos e a faca e o queijo na mão para deixá-los desconfortáveis – assim como fez quando apresentou o Oscar 2016 -, mas preferiu ter negros como alvo do que era uma piada no mínimo maldosa. Então negros não podem fazer piadas com negros? Podem, não é sobre isso que estou falando, é sobre ter a oportunidade de ser protagonista e fazer exatamente igual ao padrão. No entanto, bater em alguém é errado? Sim.
Diante do fato, tem-se novamente o debate que é chato, mas necessário; qual o limite do humor? A verdade é que não se deve perguntar somente sobre o humor, mas qual o limite de usar o outro em seu próprio conteúdo. Brincar com a doença de alguém é válido? – E se ele não sabia da doença? Ahhhhh… namoral, é sério que vamos debater por esse viés? – O que me assusta na repercussão do caso é a falta de compreensão da violência do Chris Rock. “Mas só era uma piada” E se o Will dissesse depois que o tapa dele também era uma piada, estaria valendo? A violência física não está numa prateleira acima da violência verbal. Usemos o BBB como exemplo. A participante Maria deu uma baldada na cabeça da Nathalia e foi expulsa do reallity. Não tenho nenhuma dúvida de que ela fez muito menos mal do que Karol Conká fez ao menino Lucas Penteado. Na ocasião, foi o rapaz que pediu pra sair por não aguentar mais ser tão violentado. Me dói usar quatro negros para exemplificar violência, mas nesses casos fica claro que interpretam violência verbal como algo que a vítima tem que suportar e a violência física como a indecência total do agressor. Violência é violência e ponto. Bater em alguém é errado? Sim. Fazer piadas sobre a doença de alguém é errado? Sim.
Um outro tema que se pode analisar é como pessoas têm limites diferentes, mas todos temos nossos limites. A pergunta é: O que fazer quando chegarmos nele? Entender essa situação a partir de “se fosse eu…” é simplório e senso comum demais pra mim. Eu sequer vou dizer o que realmente achei do fato, pois não importa, o que importa é que há um claro exemplo de calcanhar de Aquiles e precisamos entender qual é o nosso. Imagine a cena: toda noite Will dormir consolando a mulher que adoraria ter cabelo – por vaidade, por trabalho, pelo que seja – e vê-la se sentir diminuída ou com a autoestima baixa por conta de sua condição. O outro corte da cena é um comediante em rede mundial fazendo uma piada sobre a doença de sua esposa. É notório o riso amarelo de Will e o desconforto de Jada. Talvez esse seja o limite dele … a família. Estar ali e ganhar um Oscar por um filme que fala justamente sobre o valor da família o colocou numa situação em que era necessário agir. Bater em alguém a partir disso é errado? Sim. Fazer piadas sobre a doença de alguém é errado? Sim. Então coloquemos na balança a motivação dos dois; um se sentiu obrigado a defender a mulher que ama e outro só queria tirar umas risadas de uma plateia mais pálida do que um comício do Donald Trump. Os dois atos de violência vieram de lugares bem diferentes, um é uma ação e o outro uma reação, no entanto, violência é violência e ponto. Bater em alguém é errado? Sim. Fazer piadas sobre a doença de alguém é errado? Sim.
“A academia não tolera violência” Será? Afinal não é nem um pouco violento um negro ficar 15 anos sem ganhar uma categoria … não é nada violento existirem categorias em que negros e mulheres nunca venceram … não é nada violento algumas edições do Oscar só terem pessoas brancas indicadas … não é nada violento a academia exaltar diretores que nunca colocaram pessoas negras protagonizando seus filmes … esse debate não é sobre violência, é sobre a violência que achamos aceitável e a violência que escolhemos abominar. Violência é violência e ponto. Bater em alguém é errado? Sim. Fazer piadas sobre a doença de alguém é errado? Sim. E sobre Will perder o Oscar? Ahhhhh! Traga-me uma garapa. O Oscar não é vaga na libertadores, se ele ganhou por mérito – eu nem vi o filme -, então é dele e acabou. E assim, se ele perder o Oscar, quem ganha é o Aécio?
Eu comecei o texto falando que o episódio tinha pouca relação com o racismo e percebi como estava errado. Enxergar o povo preto como seres sem sentimentos faz com que pensemos que alguém naquela situação deveria agir de forma fria e ponderada. Essa desumanização vem de muito longe e é representada hoje em dia em pequenos aspectos intitulados de “isso não tem nada haver”. Um Maluco Odeia o Chris era o crossover que ninguém imaginava ver na noite do Oscar. Pelo menos o Will Smith foi alçado ao lugar onde já tinha o Batman, o Paulo Betti, o Ozzymandias e o Superman do Injustice; todos já deram bons tabefes em comediantes. #WakandaForever.